terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fratura do quadril é a lesão ortopédica que mais resulta em morte na terceira idade


A Organização Mundial de Saúde (OMS) já considera o índice um problema de saúde pública; mulheres são as principais vítimas devido à osteoporose


Nos últimos anos, a expectativa de vida aumentou e a população envelheceu em todo mundo. De acordo com o Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010, o número de crianças com menos de cinco anos e de idosos com mais de 65 anos já é quase o mesmo no país: 7,6% e 7,4%, respectivamente. Junto com o aumento da expectativa de vida, cresce a preocupação com a saúde e o bem-estar da população idosa. Em função do processo natural de envelhecimento, que afeta ossos, a agilidade e o equilíbrio, algumas doenças ou lesões podem ser fatais em idosos.
Entre os problemas, encontra-se a fratura dos quadris. "As fraturas do fêmur proximal (quadril) são lesões traumáticas peculiares à idade avançada. Relacionam-se a problemas posturais e de marcha, quedas e traumas comuns em ambiente doméstico. Representam, em média, 50% das internações de idosos por trauma em prontos-socorros. Cerca de 80% desses casos ocorrem em idosos capazes de andar sozinhos e vivendo em comunidade", revela o ortopedista Marcelo G. Cavalheiro, integrante do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenador da divisão de Artroscopia do Quadril na Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
Devido à grande incidência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera as fraturas do fêmur proximal como um importante problema de saúde pública, não só em países desenvolvidos, como também naqueles em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, já são gastos 10 bilhões de dólares por ano e há previsão de triplicar o valor nos próximos anos. No Brasil, a estimativa é de 100 mil casos de fraturas de quadril ao ano.
 
 Imagem: Thinkstock

Osteoporose é a principal causa

Segundo o especialista, as fraturas do fêmur proximal são mais comuns em mulheres idosas. "Muitas vezes, ocorrem em consequência do alto grau de osteoporose que apresentam, sem que tenha acontecido algum trauma", explica.
Isso porque o esqueleto do ser humano acumula massa óssea até a faixa dos 30 anos. A partir de então, perde-se 0,3 % ao ano. A mulher tem uma perda maior nos 10 primeiros anos pós-menopausa, podendo chegar a 3% ao ano, principalmente na mulher sedentária. Segundo a OMS, 1/3 das mulheres brancas acima dos 65 anos são portadoras de osteoporose. "Por isso, estima-se que 50% das mulheres com mais de 75 anos venham a ter alguma fratura osteoporótica. Em homens, esse índice cai para 25%", destaca o ortopedista.

Tratamento cirúrgico requer cuidados

De acordo com Cavalheiro, a fratura do quadril necessita de tratamento cirúrgico para alcançar bons resultados. "Pode ser tratada com fixação interna, com parafusos, pinos, hastes ou placas, ou com a artroplastia (prótese de quadril) parcial ou total. O tratamento fisioterapêutico e a reabilitação nos pacientes submetidos à cirurgia do quadril devem se iniciar imediatamente após a cirurgia. A diferença do tratamento em idosos dependerá da qualidade óssea, o que vai interferir na indicação do método de fixação cirúrgica da fratura e nos cuidados pós-operatórios", explica.
O tratamento da fratura no quadril é muito parecido para jovens e idosos. O problema é que a recuperação do procedimento cirúrgico é mais demorada em pessoas mais velhas e isso pode causar problemas graves de saúde. "As condições de saúde anteriores ao evento da fratura associadas ao repouso prolongado e às suas consequências podem comprometer diversos órgãos, como pulmões, coração e rins, podendo levar até à morte. Por isso, é necessário minimizar as complicações associadas ao repouso prolongado, como tromboembolismo, infecção do trato urinário, atelectasia (colapso pulmonar) e úlcera de pressão. Tende-se a indicar a cirurgia precocemente, após a estabilização clínica do paciente", esclarece o médico.
A avaliação e a estabilização clínica previamente à cirurgia contribuem para minimizar as complicações sistêmicas pós-operatórias, como delírio, infecção urinária, pneumonia, úlcera de pressão, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, tromboembolismo, pico hipertensivo, arritmias cardíacas e infarto agudo do miocárdio.

Índice de mortes é alto

Pesquisas mostram que a fratura do quadril é a lesão ortopédica que mais resulta em morte devido às suas consequências diretas e indiretas. "De todas as fraturas associadas à osteoporose, as que apresentam maiores consequências para a qualidade de vida do indivíduo são as da extremidade proximal do fêmur, com um índice médio de mortalidade de 30% nos primeiros seis meses após o trauma e perda da autonomia em 50% dos casos, sem recuperar inteiramente o nível de independência de antes da fratura", revela o médico.
De acordo com o ortopedista, as fraturas do fêmur proximal são altamente dolorosas, sendo muito difícil caminhar ou mesmo mudar de posição. "Esse tipo de fratura promove uma deformidade local, deixando o membro inferior encurtado e com rotação externa (pé para fora). É uma urgência que deve contar com a assistência de um especialista para minimizar os riscos de doenças que ocorrem devido à imobilidade, como acúmulo de secreções nos pulmões, pneumonia, distúrbios gastrintestinais, infecção urinária, diminuição do fluxo de sangue nas veias, que leva à trombose venosa, e até demência", alerta.

Boa saúde é a melhor forma de prevenção

Há um conjunto de ações que  Marcelo Cavalheiro indica para ter uma boa saúde e evitar a lesão:
- Adequar o ambiente domiciliar, eliminando os perigos que contribuem para a ocorrência de quedas, como tapetes soltos, fios elétricos, escadas e degraus desnecessários;
- Implantar medidas de segurança, como uma boa iluminação da casa, corrimão dentro do box do banheiro e pisos e tapetes antiderrapantes;
- Combater a osteoporose, mantendo a boa densidade dos ossos, com medicações, alimentação adequada, exercícios e exposição ao sol;
- Evitar sedativos, consumo de cafeína, cigarro e álcool, que contribuem para a osteoporose;
- Tratar os problemas de visão, equilíbrio e perda de consciência, que podem levar às quedas;
- Fazer caminhadas e exercícios físicos.
"Os exercícios trabalham a musculatura, fortalecendo a região dos quadris, protegendo-a, melhorando a sua biomecânica e absorvendo o impacto. Melhoram o equilíbrio e a agilidade do idoso, evitando as quedas. Contribuem para melhorar a mineralização óssea, muito importante nos casos de osteoporose. É fundamental a pessoa aprender corretamente como fazer os exercícios, com um profissional capacitado, para tirar o melhor benefício dessa atividade e não correr riscos de se lesar e de se machucar com os próprios exercícios", finaliza Cavalheiro. 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

UMA FRUTA PERIGOSISSIMA CARAMBOLA




PASSARINHO NÃO BICA CARAMBOLA

A Câmara de Vereadores da cidade de Jaú, no interior de São Paulo, aprovou por unanimidade
um projeto do vereador José Mineiro de Camargo (PSB) que obriga estabelecimentos como
lanchonetes, bares, restaurantes, hospitais e repartições públicas municipais a fixarem
cartazes alertando para o risco do consumo da carambola e do suco da fruta . A carambola
tem uma toxina que pode matar portadores de insuficiência renal. A lei, que também
estabelece aos donos de estabelecimentos que evitem a venda da fruta a pessoas que
tenham complicações renais, vigora há menos de dois meses.


É mais um alerta do que uma proibição às pessoas que têm insuficiência renal, para
que não venham a sofrer as conseqüências.


A carambola tem uma neurotoxina que, se não for filtrada, vai direto para o sangue.
Se o paciente portador de insuficiência renal comer a fruta, ele deve contar ao médico,
pois corre o risco de entrar em coma e morrer, se não fizer hemodiálise.


O rim normal filtra a toxina, afirmou o vereador. Depois de contar que pesquisou o
assunto, Camargo disse que os diabéticos também correm risco e que 99% da
população desconhece os danos causados pela carambola.

O médico Eduardo Martins Rebec, nefrologista do setor de hemodiálise da
Santa Casa de Jaú, confirma o risco no consumo da fruta. Há risco de morte, sim .


O rim de quem tem insuficiência renal não consegue eliminar a toxina, que se acumula
no sangue e acomete o sistema nervoso central. Se o portador de insuficiência renal
ingerir a carambola, pode ter convulsões e entrar em coma com risco de óbito,
alerta . Para remover a toxina, é feita uma hemodiálise de urgência.


ATENÇÃO: O ASSUNTO É MUITO SÉRIO

Eu soube da periculosidade da carambola quando, em janeiro de 2010, minha esposa
esteve internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Na prescrição de sua dieta,
estava explicitamente recomendado que pacientes portadores de insuficiência renal
não deveriam consumir esta fruta.
Moacyr Mansur
TOXINA DA CARAMBOLA ...(links no final da noticia)

Sei disto já faz tempo, pois meu pai ficava repetindo:
" É muito estranho, porque os passarinhos não bicam as carambolas,
mesmo quando estão bem maduras ?"

Não deixem de ler mais informações nos links indicados a seguir:
http://www.todafruta.com.br/portal/icNoticiaAberta.asp?idNoticia=8327
http://taibioideias.blogspot.com/2010/03/toxina-da-carambola.html
http://medicinasnaturais.blogspot.com/2008/02/carambolas-vs-doentes-nefrolgicos.html

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Kettlebell emagrece e fortalece músculos em apenas 20 minutos de treino



Já imaginou emagrecer e tonificar o corpo todo de uma vez só e gastando, ao todo, uma hora por semana? Não é milagre, é kettlebell, um acessório criado na Rússia para treinamento físico no século 18. O nome difícil refere-se a uma bola oca de ferro com aproximadamente 20 cm de diâmetro médio e que conta com uma alça por onde é segurada. Seu peso pode variar de 4 a 48 quilos. Desde 2009, ela vem ganhando espaço nas academias do mundo todo e agora virou item indispensável do treinamento funcional no Brasil. Segundo Steve Cotter, fundador da International Kettlebell & Fitness Federation (IKKF), os exercícios com kettlebell podem ser praticados por todos: desde aqueles que são iniciantes até atletas que desejam melhorar o rendimento. Mas claro, cada um na intensidade mais indicada. A seguir nos listamos todos os benefícios do exercício com ketllebell. Confira e veja tudo o que você pode alcançar com essa novidade.
Não toma muito tempo
O kettlebell é um ótimo exercício para quem está sem tempo. “O trabalho pode gerar um bom ganho de condicionamento físico até mesmo se for feito por somente 20 minutos em três dias diferentes da semana”, explica Steve Cotter. Isso se deve principalmente ao seu dinamismo: os movimentos são rápidos e contínuos e à sua intensidade, que é bastante forte tanto do ponto de vista aeróbico, quanto do fortalecimento muscular. Até os mais bem treinados sentem o cansaço de uma aula. Quem tiver mais tempo pode aproveitar e seguir o treino por mais tempo e com maior frequência, certamente verá resultados mais rápidos.
Além disso, o kettlebell é extremamente versátil. Você pode dedicar uma aula inteira a ele, inserir em outras aulas – como a ginástica localizada, exercendo uma função de halter -, realizar um treino funcional com a sua ajuda ou substituir a musculação por ele.
E lembre-se: é imprescindível que o exercício seja antecedido de aquecimento. Depois do treino, alongamentos com o objetivo de, além de esticar o corpo, desaquecer, são uma boa opção.Exercícios com kettlebell – foto: Erik Almeida
Ajuda a emagrecer
“Cada meia hora de exercícios com kettlebell gasta 300 calorias”, conta a educadora física Mônica Torres. Isso porque os exercícios são muito dinâmicos: durante o treino, o praticante tem poucos momentos de descanso, o exercício é realizado praticamente de forma contínua durante meia hora. O sobe e desce de braços e pernas (e com a resistência da bola!) garante um trabalho cardiorrespiratório intenso, de fazer suar até quem já está acostumado com treinos pesados.
Por ser um trabalho tanto de fortalecimento quanto de emagrecimento, o kettlebell pode muito bem substituir aquelas uma hora e meia que você passa entre a esteira e a sala de musculação.
O corpo todo fica forte
Alguns exercícios do kettlebell recrutam os músculos dos glúteos. “Ficar com o bumbum maior, mais durinho e com um formato mais arredondado é um resultado esperado para as mulheres que usam o kettlebell”, explica e educadora física Mônica Marques, diretora técnica da Academia Companhia Athletica. Há também exercícios que fortalecem a musculatura abdominal e lombar – garantindo maior estabilidade para a coluna – ou os braços. Mas para realizar cada um desses exercícios específicos o corpo todo entra em movimento. Enquanto o braço eleva o kettlebell o praticante passa da posição agachada para em pé, por exemplo. E mais: para manter a postura firme que este exercício pede todos os músculos se mantêm contraídos. Os resultados aparecem em forma de um fortalecimento por completo.
É bom para quem quer começar
Segundo Steve Cotten, o kettlebell é uma excelente estratégia para quem quer vencer o sedentarismo. “Você pode usar um kettlebell em qualquer lugar: pode praticar em casa, levar para a academia e até para o escritório”, explica. Mas antes de começar a praticar, procure um educador físico apto a te orientar a usar o acessório e opte pelo peso mais leve, aumentando gradualmente de acordo com o ganho de força e condicionamento físico. Caso você já tenha uma lesão de ossos, músculos ou articulações o recomendado é consultar um médico antes de começar o exercício.
Os kettlebells custam, em média, entre 30 e 200 reais, variando de acordo com o peso, que vai de 4 a 48 quilos (os mais leves são mais baratos)*. Opte por kettlebells emborrachados, que diminuem o atrito com as mãos.
*Valores consultados em setembro de 2013, sujeitos à alteração.
E bom para atletas
O kettlebell é um exercício democrático: pode ser feito por iniciantes e atletas. Isso porque sua evolução é progressiva – os kettlebells apresentam grande variação de peso. Os atletas de esportes de contato, como o futebol, por exemplo, usam o treino para gerar potência muscular, ou seja, força nos momentos mais decisivos: na hora de chutar o gol ou lançar o disco, por exemplo. Nesse caso são usadas cargas mais altas e número de repetições menor. “Outros esportes, que envolvem movimentos curvilíneos, como o golfe, se beneficiam muito deste treino”, explica Mônica Marques. Com o kettlebell é possível fazer o mesmo movimento curvo, em função de seu formato de bola com alça.
É divertido
As aulas com kettlebell são uma novidade. Só isso já torna a modalidade interessante. Mas tem mais: diferentemente de uma sessão de musculação ou de uma hora na esteira, o exercício exige concentração o tempo inteiro. “Ao contrário dos exercícios com uma bicicleta ergométrica, por exemplo, o kettlebell não direciona seus movimentos nem faz esforço por você”, explica Steve Cotter. Além disso, os movimentos realizados são rápidos, ágeis e alternados com frequência. Nada fica na mesmice.
Mais flexibilidade e coordenação
Diferentemente dos exercícios de alongamento tradicionais, que são feitos com uma pausa de alguns segundos, o kettlebell promove ganho da flexibilidade durante o exercício. Esse benefício é conquistado através do constante alongamento e encurtamento dos músculos (ao esticar e dobrar o braço, por exemplo) durante os exercícios com kettlebell. Esses movimentos são muito amplos e rápidos, levando o músculo de uma situação em que ele está completamente contraído à outra em que ele está totalmente alongado em menos de um segundo. Além disso, é preciso muito trabalho de coordenação para manipular a bola com alças, direcionando pesos para os lugares corretos.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Conheça o maior bicicletário da América Latina


Com mais boa vontade que dinheiro, o paranaense Adílson Alcântara da Silva montou o maior bicicletário da América Latina, considerado um modelo para o mundo


A mais nova aquisição do bicicletário erguido ao lado da estação de trem de Mauá, município da região metropolitana de São Paulo, é um brechó. A pequena loja, montada nos fundos daquele que é considerado o maior estacionamento de bicicletas da América, com capacidade para pelo menos 2 mil magrelas, disponibiliza aos associados pedais, quadros, guidões e todo tipo de peças usadas. O cantinho, que ostenta um delicado gradil forjado com catracas, correias e pedivelas, tem um significado especial para a mantenedora do local, a Associação dos Condutores de Bicicletas de Mauá (Ascobike). Responsável por uma população mensal flutuante de 1200 a 1700 ciclistas, a maioria deles trabalhadores e estudantes que usam a bicicleta como alternativa de transporte para se deslocar de casa até o trem, a entidade precisa garantir que todos tenham seu veículo em condições de uso, sempre. "Servimos gente muito humilde, normalmente da periferia aqui de Mauá, que compromete a parte do salário que iria para a condução de ônibus em outras coisas, como pão e leite para os filhos. Por isso não podemos deixar ninguém sem bicicleta para voltar pra casa", explica o ferroviário e assistente social Adílson Alcântara da Silva, de 51 anos, idealizador do projeto. Além do brechó, o bicicletário dispõe de uma oficina mecânica com preços abaixo dos praticados pelo mercado, um compressor de ar para calibrar os pneus, banheiros masculino e feminino com espelho, um kit para engraxar sapatos, um bebedouro, café quente a toda hora e um televisor. "Temos também 12 bicicletas para empréstimo." Os associados da Ascobike pagam 15 reais por mês para ter acesso ao bicicletário. Quem não é mensalista desembolsa 1 real avulso para deixar a bike ali por um dia.
Uma década
A associação completou dez anos de existência em maio deste ano e só surgiu por causa da dedicação de Adílson. Paranaense de Apucarana, o ferroviário veio criança para São Paulo, com a mãe e dois irmãos menores. Conta que teve uma vida difícil. Por falta de condições, foi entregue ao Juizado de Menores e viveu internado em instituições como a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) até os 18 anos. Já adulto, fez bicos em padarias, pequenas fábricas e construções. E foi trabalhando como assistente de pedreiro que soube por um maquinista de um concurso da então Rede Ferroviária Federal. O ano era 1978. Com a 6ª série do Ensino Fundamental, inscreveu-se, fez o teste em duas fases e conquistou a vaga de bilheteiro: estava empregado com carteira assinada. Mas continuou trabalhando por conta. "Com os primeiros salários que recebi, montei duas bicicletarias. Naquela época, consertávamos bicicletas, de verdade. Hoje os meninos só trocam peças", brinca Adílson.
A paixão pela magrela acompanhou o ferroviário durante toda a carreira, como bilheteiro, encarregado, chefe de estação e supervisor. Adepto dos pedais como meio de transporte, ele sempre se incomodou com as bicicletas penduradas nos arredores das estações. "O pior é que eu podia colocar minha bike dentro da estação, mas os passageiros não. E, quando as bicicletas não eram roubadas ou depenadas, eu, como chefe de estação, era obrigado a apreendê-las quando estivessem obstruindo a passagem, uma tortura", lembra. Quando Adílson chegou a Mauá, em 1998, as coisas começaram a mudar. E, de tanto que insistiu, conseguiu, enfim, em 2001, montar a Ascobike em um terreno cedido pela Companhia de Trens Metropolitanos de São Paulo (CPTM).
Transporte rápido
movimento no bicicletário não para. A Ascobike funciona 24 horas. Os primeiros associados chegam ainda de madrugada e o pico da manhã começa às 5 horas e segue intenso até pelo menos as 7. Uma fila de gente em pé ao lado da bicicleta se forma no calçadão em frente à entrada da entidade para retirada do bilhete de acesso ao local. Os funcionários da associação, todos do Programa Primeiro Emprego, que insere jovens no mercado de trabalho, checam o cadastro de cada um no computador antes de imprimir o tíquete. Os ciclistas penduram suas bicicletas nos ganchos do estacionamento e, depois de tomar um café, quase sempre apressados, caminham para a estação de trem. À tarde, o corre-corre é no sentido contrário. Levas de passageiros do trem chegam para retirar suas bikes a cada comboio que para na estação e o entra e sai é incessante.
Em Mauá, a grande vantagem da bicicleta, além da redução dos gastos com condução e dos benefícios para a saúde, é a economia de tempo para voltar para casa. Quem depende do ônibus, principalmente durante o rush, depois das 5 da tarde, horário em que as filas estão enormes, chega a esperar mais de meia hora entre a liberação de embarque e a partida do "busão". Como ali o percurso dos ciclistas dificilmente ultrapassa 6 quilômetros, pedalar é mais rápido que pegar qualquer outro transporte público. Que o diga o encanador Gildácio Santos Dias, de 37 anos. Ele trabalha na construção de um prédio na cidade de São Paulo e usa o trem durante a semana. "Levo pouco mais de 15 minutos de bicicleta da estação até em casa, é bem rápido. De ônibus, ia demorar mais", garante.
Varal de duas rodas
O sistema de ganchos para pendurar as bicicletas, hoje replicado em todos os bicicletários da CPTM, nasceu em Mauá. "Saiu da minha cabeça", orgulha-se Adílson. A solução é simples e engenhosa. Um varal de ferro de cerca de 3 metros permite a acomodação de 20 bicicletas suspensas pela roda, dez de cada lado. O segredo está na disposição dos ganchos, que apresentam alturas intercaladas, o que lhes permite ficar a apenas 30 centímetros distantes uns dos outros. Esse desenho faz com que os guidões das bicicletas ladeadas se encaixem sem atritos. Mas há também vagas horizontais, para quem tem dificuldade para erguer a própria bicicleta. Erasmo Lima, de 55 anos, usuário desde os primórdios do bicicletário, é um deles. "Tenho problema na coluna e paro minha bicicleta neste suporte aqui do chão", conta ele, apontando para sua vaga numerada. Outra solução, mais recente, é o uso de conduítes, os famosos espaguetes, na ponta dos ganchos, para proteger o aro das bikes.
A ideia dos ganchos acompanhou Adílson desde a época das bicicletarias, mas erguer a Ascobike no fim dos anos 1990 exigiu muito do então supervisor de estação e sindicalista atuante. Ele precisou fazer um empréstimo no banco e passou a pedir todo tipo de ajuda para a comunidade local. Para abrir o dia inteiro, arrumou três sócios, que se revezavam na portaria, um de manhã, outro de tarde e o terceiro à noite. Cada um ficava com 1 real dos 5 que a associação cobrava dos mensalistas. "Nos primeiros dias, tínhamos apenas uma bicicleta. O Toninho [um dos sócios] chegou a guardar a bike na banca de jornal dele." Com o tempo, a demanda aumentou e, em poucas semanas, já eram cerca de 250 bicicletas. De lá para cá, Adílson se formou assistente social, a CPTM injetou recursos no projeto para padronizar e ampliar o lugar e o número de usuários subiu. Hoje, existem mais de 10 mil nomes no cadastro da Ascobike, embora o número de associados regulares, que têm gancho numerado no bicicletário, seja menor. Adílson contabiliza muitas inadimplências e exige da oficina descontos de pai para filho no remendo de câmaras, na troca de sapatas de freio e na compra de peças novas ou usadas, mas garante que vale a pena, por um motivo muito simples: "Não estamos preocupados com as bicicletas e sim com a pessoa sentada no selim".

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Chateado? Pode ser a postura



A maneira como nos posicionamos influencia em nosso bem-estar. Mais um motivo para prestar atenção na forma como nos sentamos e andamos por aí


Antes de começar a ler, preste atenção em seu corpo. Em que posição você está? São grandes as chances de que esteja sentado, jogado meio de qualquer jeito sobre uma poltrona, costas curvadas, talvez inclinadas um pouco para um lado, pernas cruzadas ou dobradas, ombros retraídos. Agora olhe para dentro e reflita sobre como você se sente: cansado, sem energia, tenso? Não estranhe as perguntas; a relação entre postura e bem-estar é mais profunda do que pensamos.

Uma pesquisa realizada pela San Francisco State University em 2012 concluiu que a postura que adotamos ao andar tem influência direta e imediata no modo como nos sentimos. O estudo reuniu 110 jovens e pediu que eles andassem, durante alguns minutos, com a coluna encurvada e a cabeça baixa. Questionados após a experiência, os participantes relataram uma diminuição de energia após a caminhada. A queda foi mais significativa naqueles que já apresentavam uma tendência para tristeza e depressão.

Esse resultado reforça o que diversas áreas de estudo, como fisioterapia e ioga, trabalham há tempos: a relação entre emoção e postura. "Na ioga você tem, por exemplo, a postura do guerreiro. Não tem como estar deprimido quando se está com os braços estendidos, o peito aberto. Você nunca vê alguém de peito aberto dizendo `tô muito chateado hoje'", afirma o professor de ioga Anderson Allegro.

Por outro lado, quando se está abatido, torna-se difícil manter o corpo ereto. "Nós passamos a vida tendo de vencer a ação da gravidade. É natural que, quando você está mais cansado, chateado, você sofra mais essa ação no seu corpo e deixe que ela vença", afirma Oldack Barros, presidente da Sociedade Brasileira de rpg (Reeducação Postural Global).

Fisicamente, a postura adequada faz com que o corpo trabalhe da forma correta. "Quando você tem um corpo alongado, você tem um melhor funcionamento de todos os órgãos vitais, porque eles vão estar posicionados em seus lugares, sem haver achatamentos. O bombeamento do sangue pelo coração é favorecido, assim como o retorno venoso. Você também mantém a flexibilidade nas articulações", explica Oldack.

Outra consequência negativa da má postura, segundo Anderson Allegro, é sentida em nossa energia. "Quando a gente está muito jogado de qualquer jeito, a energia não flui. Os canais de energia são relacionados com o corpo. Então, se eu estou com a postura caída, o fluxo em direção à cabeça é prejudicado, aí minha concentração não vai ser a mesma, nem minha capacidade de discernimento e de tomar decisões." Portanto, a ordem é levantar a cabeça, alongar o corpo e abrir o peito.


Homo sentadus

"Hoje em dia, todo mundo tem postura errada, o modo de vida que a gente criou no Ocidente leva a isso", afirma Anderson Allegro. "Você digita, lê um livro, cozinha, lava a louça, tudo no mesmo lugar. Isso naturalmente traz o corpo para uma posição caída, dá uma afundada no peito, leva o ombro para frente". Para o professor de ioga, outro problema da nossa vida cotidiana é o excesso de tempo que passamos na mesma posição. "Você trabalha oito horas sentado e, quando chega em casa, liga a televisão e se joga no sofá." Oldack Barros considera isso um crime sério. "Nós nos transformamos: éramos um `homo erectus¿ e hoje somos um `homo sentadus", brinca. Para sair dessa inércia, comece a fazer pausas regulares para levantar-se da cadeira e caminhar.

Se, no entanto, você tem um emprego no qual leva bronca de chefe se passar cinco minutos fora da mesa, alongue-se ali mesmo, realizando movimentos simples para diminuir os efeitos ruins dessa rotina. Anderson Allegro conta que, quando sabe que vai passar muito tempo trabalhando no computador, coloca a seu lado um cronômetro para tocar a cada meia hora. "Quando ele toca, eu levanto, estendo os braços, dou uma esticadinha, solto o corpo para frente. Sair daquela postura curvada e fazer esses pequenos movimentos já vai me trazer a consciência de volta e eu vou sentar de novo mais bem posicionado." Esses gestos podem ser feitos em qualquer espaço, até mesmo em baias apertadas e sem privacidade. "É melhor pagar mico do que ficar doente."

Saber sentar corretamente também é de grande valor. "Uma boa posturasentada seria estar confortável, sentado em cima dos dois ísquios, que são os ossinhos do bumbum, com os pés apoiados no chão e com um apoio mais ou menos na região mediana das costas mantendo sempre a linha do olhar horizontal", diz Oldack.

Fora do ambiente de trabalho, praticar alguma atividade física - qualquer uma! - é de extrema importância para manter a postura, retomar o contato com seu próprio corpo e colocar músculos diferentes para funcionar. Para a terapeuta corporal Lucia Merlino, a escolha da prática à qual se dedicar é totalmente individual. "Tudo é bom se for expressão do prazer da pessoa: boxe, caminhar, correr, ioga, pilates. O importante é procurar uma atividade física que te alimente e que te deixe feliz."

Uma boa atividade, que, no entanto, é muitas vezes mal conduzida, é o alongamento. "À vezes as pessoas se alongam de um jeito tão torto que se machucam. Tem de saber a diferença entre ficar se esticando e criar uma consciência corporal para ampliar os limites do corpo", diz Lucia. "Não adianta colocar o pé lá em cima da barra, mas estar com o ombro tenso, a bacia torta." Uma orientação profissional acertada pode fazer a diferença nessa hora. A mudança pode não funcionar se for feita à força, e talvez exija um trabalho amplo de reeducação corporal, principalmente se a má postura já estiver provocando dores frequentes. "Às vezes a pessoa sabe que está encurvada, tenta corrigir a postura, mas diz que não aguenta mais do que dois minutos. Não adianta ficar esticado e duro, não vai mesmo durar", diz Lucia Merlino. Para ela, a história de vida da pessoa e como ela construiu a relação com seu corpo tem grande importância.

"O corpo vai se moldando de acordo com nossa história pessoal, e essa história tem os afetos, a cultura, os adestramentos pelos quais o corpo passou. Tudo isso faz parte do jeito como você se vira no mundo, e às vezes você fica prisioneiro dessa postura. Então, quando você se libera de alguma coisa que está te prendendo, você tem um fluxo mais gostoso dentro do seu corpo e consegue ter uma dança melhor no mundo."

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A atividade certa para o seu filho de acordo com a idade dele



Praticar atividades físicas junto com os filhos é uma forma de estimular as crianças a se movimentarem desde cedo


Virou bordão dizer que as crianças não brincam mais na rua devido à falta de segurança nas cidades e que a diversão está sendo substituída pelos videogames. As afirmações infelizmente são fato e se transformaram em problema mundial. Porém, não podemos nos esquecer de que os exercícios físicos são ingrediente essencial para a vida, a saúde e a sociabilidade tanto dos pequenos quanto dos mais crescidos. Então, por que não unir o útil ao agradável e começar a mexer o corpo junto com seus filhos? Confira a seguir que tipos de atividades físicas você pode praticar com seus filhos, de acordo com a idade deles, e mãos à obra.

0 a 6 anos
O estímulo ao corpo começa quando os filhos ainda são bebês. Nos primeiros meses de vida, os pais devem mexer pernas e braços da criança e incentivá-la a se movimentar quando ela começa a engatinhar, pegar objetos e dar os primeiros passos.

O que fazer:
- Natação para pais e bebês, praticada de forma recreativa. A criança faz força para se manter boiando, batendo os braços e as pernas e trabalha a respiração.

- Ioga para mães e bebês a partir dos 3 meses de idade. O pequeno fica apoiado na mãe enquanto ela pratica posturas de ioga que fortalecem os músculos usados no parto. Ele também faz posturas, manipulado pela mãe.

- Brinque de pega-pega, amarelinha, esconde-esconde. A partir dos 4 anos, a criança já entende regras básicas. Introduza a queimada, o rouba-bandeira.

- Use um minigol ou uma rede de vôlei baixa. A criança não vai aprender a jogar vôlei, mas vai saber que tem de arremessar a bola para o lado de lá da rede. Atenção: não adianta só diminuir o tamanho dos equipamentos e submeter seu filho a regras e exigências além de sua capacidade.


6 a 12 anos
A criança está apta a aprender os princípios dos esportes. Ela já assimila atividades mais programadas, porque desenvolveu um vocabulário de movimentos. Mas não especialize seu filho em uma só modalidade esportiva até os 12 anos.

O que fazer:
- Comece a ensinar o jeito de pegar na raquete de tênis ou de bater um pênalti, por exemplo. Mas sem regras. É comum os pais dizerem que é para chutar assim ou arremessar assado. Mas, nessa faixa etária, é difícil para a criança ter uma técnica perfeita, diz a pediatra e médica do esporte Ana Lúcia de Sá Pinto.

- Parta para os esportes de quadra quando a criança estiver por volta dos 8 anos, idade em que começa a entender melhor as regras. Como a diferença de altura ainda é grande, vôlei e basquete, por exemplo, valem mais como brincadeira.

- Jogue pingue-pongue, esporte considerado intergeracional.

- Corra e ande de bicicleta. As modalidades individuais são bacanas porque não há atrito entre os jogadores, o que, com a diferença de tamanho e força entre adultos e crianças, aumentaria o risco de o pequeno se machucar.


12 a 18 anos
Seu filho já pode respeitar as regras do esporte e levar a prática mais a sério, seja para ter boa forma ou para competir de verdade e levar isso adiante na idade adulta. É bom ficar de olho para que o treinamento dele seja adequado, de acordo com seus limites.

O que fazer:
- Esportes de aventura: skate, arvorismo, tirolesa, rafting e escalada urbana são exemplos. Equipamentos para tirolesa e paredes de escalada são encontrados em academias e centros esportivos nas cidades. Faça um diagnóstico com um profi ssional de educação física antes de iniciar as atividades para ver se você ou seu filho precisam de alguma preparação prévia.

- Parta para as provas de aventura, que acontecem no meio rural e envolvem diversas modalidades esportivas, como caminhada, corrida, natação e até canoagem. Embrenhados no mato, vocês terão que traçar planos e estratégias para chegar à reta final. É uma oportunidade de criar uma equipe com o pai, a mãe e os filhos, o que solidifica a relação da família, diz Ana Lúcia de Sá Pinto.

- Não estão a fim de tanta emoção? Escolham o esporte que mais agrade a todos. A habilidade e a coordenação motora estão mais parecidas do que nunca. Que tal convencer o filhão a jogar aquela pelada com você e seus amigos?