terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fratura do quadril é a lesão ortopédica que mais resulta em morte na terceira idade


A Organização Mundial de Saúde (OMS) já considera o índice um problema de saúde pública; mulheres são as principais vítimas devido à osteoporose


Nos últimos anos, a expectativa de vida aumentou e a população envelheceu em todo mundo. De acordo com o Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010, o número de crianças com menos de cinco anos e de idosos com mais de 65 anos já é quase o mesmo no país: 7,6% e 7,4%, respectivamente. Junto com o aumento da expectativa de vida, cresce a preocupação com a saúde e o bem-estar da população idosa. Em função do processo natural de envelhecimento, que afeta ossos, a agilidade e o equilíbrio, algumas doenças ou lesões podem ser fatais em idosos.
Entre os problemas, encontra-se a fratura dos quadris. "As fraturas do fêmur proximal (quadril) são lesões traumáticas peculiares à idade avançada. Relacionam-se a problemas posturais e de marcha, quedas e traumas comuns em ambiente doméstico. Representam, em média, 50% das internações de idosos por trauma em prontos-socorros. Cerca de 80% desses casos ocorrem em idosos capazes de andar sozinhos e vivendo em comunidade", revela o ortopedista Marcelo G. Cavalheiro, integrante do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenador da divisão de Artroscopia do Quadril na Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
Devido à grande incidência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera as fraturas do fêmur proximal como um importante problema de saúde pública, não só em países desenvolvidos, como também naqueles em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, já são gastos 10 bilhões de dólares por ano e há previsão de triplicar o valor nos próximos anos. No Brasil, a estimativa é de 100 mil casos de fraturas de quadril ao ano.
 
 Imagem: Thinkstock

Osteoporose é a principal causa

Segundo o especialista, as fraturas do fêmur proximal são mais comuns em mulheres idosas. "Muitas vezes, ocorrem em consequência do alto grau de osteoporose que apresentam, sem que tenha acontecido algum trauma", explica.
Isso porque o esqueleto do ser humano acumula massa óssea até a faixa dos 30 anos. A partir de então, perde-se 0,3 % ao ano. A mulher tem uma perda maior nos 10 primeiros anos pós-menopausa, podendo chegar a 3% ao ano, principalmente na mulher sedentária. Segundo a OMS, 1/3 das mulheres brancas acima dos 65 anos são portadoras de osteoporose. "Por isso, estima-se que 50% das mulheres com mais de 75 anos venham a ter alguma fratura osteoporótica. Em homens, esse índice cai para 25%", destaca o ortopedista.

Tratamento cirúrgico requer cuidados

De acordo com Cavalheiro, a fratura do quadril necessita de tratamento cirúrgico para alcançar bons resultados. "Pode ser tratada com fixação interna, com parafusos, pinos, hastes ou placas, ou com a artroplastia (prótese de quadril) parcial ou total. O tratamento fisioterapêutico e a reabilitação nos pacientes submetidos à cirurgia do quadril devem se iniciar imediatamente após a cirurgia. A diferença do tratamento em idosos dependerá da qualidade óssea, o que vai interferir na indicação do método de fixação cirúrgica da fratura e nos cuidados pós-operatórios", explica.
O tratamento da fratura no quadril é muito parecido para jovens e idosos. O problema é que a recuperação do procedimento cirúrgico é mais demorada em pessoas mais velhas e isso pode causar problemas graves de saúde. "As condições de saúde anteriores ao evento da fratura associadas ao repouso prolongado e às suas consequências podem comprometer diversos órgãos, como pulmões, coração e rins, podendo levar até à morte. Por isso, é necessário minimizar as complicações associadas ao repouso prolongado, como tromboembolismo, infecção do trato urinário, atelectasia (colapso pulmonar) e úlcera de pressão. Tende-se a indicar a cirurgia precocemente, após a estabilização clínica do paciente", esclarece o médico.
A avaliação e a estabilização clínica previamente à cirurgia contribuem para minimizar as complicações sistêmicas pós-operatórias, como delírio, infecção urinária, pneumonia, úlcera de pressão, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, tromboembolismo, pico hipertensivo, arritmias cardíacas e infarto agudo do miocárdio.

Índice de mortes é alto

Pesquisas mostram que a fratura do quadril é a lesão ortopédica que mais resulta em morte devido às suas consequências diretas e indiretas. "De todas as fraturas associadas à osteoporose, as que apresentam maiores consequências para a qualidade de vida do indivíduo são as da extremidade proximal do fêmur, com um índice médio de mortalidade de 30% nos primeiros seis meses após o trauma e perda da autonomia em 50% dos casos, sem recuperar inteiramente o nível de independência de antes da fratura", revela o médico.
De acordo com o ortopedista, as fraturas do fêmur proximal são altamente dolorosas, sendo muito difícil caminhar ou mesmo mudar de posição. "Esse tipo de fratura promove uma deformidade local, deixando o membro inferior encurtado e com rotação externa (pé para fora). É uma urgência que deve contar com a assistência de um especialista para minimizar os riscos de doenças que ocorrem devido à imobilidade, como acúmulo de secreções nos pulmões, pneumonia, distúrbios gastrintestinais, infecção urinária, diminuição do fluxo de sangue nas veias, que leva à trombose venosa, e até demência", alerta.

Boa saúde é a melhor forma de prevenção

Há um conjunto de ações que  Marcelo Cavalheiro indica para ter uma boa saúde e evitar a lesão:
- Adequar o ambiente domiciliar, eliminando os perigos que contribuem para a ocorrência de quedas, como tapetes soltos, fios elétricos, escadas e degraus desnecessários;
- Implantar medidas de segurança, como uma boa iluminação da casa, corrimão dentro do box do banheiro e pisos e tapetes antiderrapantes;
- Combater a osteoporose, mantendo a boa densidade dos ossos, com medicações, alimentação adequada, exercícios e exposição ao sol;
- Evitar sedativos, consumo de cafeína, cigarro e álcool, que contribuem para a osteoporose;
- Tratar os problemas de visão, equilíbrio e perda de consciência, que podem levar às quedas;
- Fazer caminhadas e exercícios físicos.
"Os exercícios trabalham a musculatura, fortalecendo a região dos quadris, protegendo-a, melhorando a sua biomecânica e absorvendo o impacto. Melhoram o equilíbrio e a agilidade do idoso, evitando as quedas. Contribuem para melhorar a mineralização óssea, muito importante nos casos de osteoporose. É fundamental a pessoa aprender corretamente como fazer os exercícios, com um profissional capacitado, para tirar o melhor benefício dessa atividade e não correr riscos de se lesar e de se machucar com os próprios exercícios", finaliza Cavalheiro. 

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