Quinto dedo da mão costuma ser visto quase como acessório.
Mas sua perda acaba sendo muito sentida, quando acontece.
O dedo mindinho, o humilde dedo número cinco da mão, há muito tempo é visto como um acessório decorativo, um dedinho para levantar delicadamente enquanto tomamos uma xícara de chá. O que perderíamos se não tivéssemos esse dedinho?
"Você perderia facilmente 50% da força da sua mão", afirmou Laurie Rogers, terapeuta ocupacional e terapeuta de mão certificada do Hospital Nacional de Reabilitação em Washington. Ela explicou que apesar dos dedos indicadores e médios, junto com o polegar, funcionarem para pinçar e agarrar objetos – fechando zípers, abotoando botões – os dedos mínimos se juntam ao anelares para dar força à mão.
Aprendi isso sozinha no último mês de abril, quando tropecei enquanto fazia jogging e minha figura de 60 quilos esmagou o osso na base do meu mindinho direito, um osso da largura de um lápis. Eu quebrei minha articulação metacarpofalangeal, MCP, onde o dedo se liga à mão.
Cinco meses depois, o dedinho ainda não era capaz de dobrar sozinho. Não conseguia fechar a mão, manusear uma raquete de tênis com controle, segurar direito um pesinho de musculação ou um aspirador de pó. Pelo fato da lesão ter ocorrido na minha mão dominante, escrever era uma tarefa difícil.
Problema comum
Minha situação estava longe de ser especial. Fraturas do dedo mindinho e do seu metacarpo – o osso que se estende da base do dedo até a mão – são duas vezes mais freqüentes que fraturas em qualquer outra parte do dedo ou do metacarpo, incluindo o polegar. Existem poucos dados confiáveis que monitoram lesões no dedo mindinho nos Estados Unidos; as estatísticas são de um estudo de 2003 do "The Journal of Hand Surgery" (volume britânico e europeu) que analisou o equivalente a um ano de dados de uma emergência hospitalar em Amsterdã, Holanda.
A alta incidência de fraturas pode ser atribuída ao status do mindinho, junto com o dedo indicador, como "dedo de fronteira", um "apoio para livros" em relação aos dedos anelares e médios, explicou Dr. Steven Z. Glickel, diretor do C.V. Starr Hand Surgery Center do t. Lukes-Roosevelt Hospital Center em Nova York e presidente da Sociedade Americana de Cirurgia de Mão.
Apesar do dedo indicador "ser, pelo menos, um pouco protegido por estar adjacente ao polegar", continuou o médico, "o dedo mínimo praticamente não tem nenhuma proteção".
Os ossos do dedo mínimo – as falanges distal, média e próxima – são geralmente quebrados em quedas ou quando o dedo é atingido por algo, como uma bola de basquete.
Apesar da rigidez e do inchaço, muitas pessoas não percebem que o dedo está quebrado, então não procuram tratamento.
Fratura oculta
"As pessoas pensam que se não sentem dor e podem mover o dedo, ele não está quebrado", disse Scott G. Edwards, diretor de cirurgia de mão e cotovelo do Georgetown University Hospital. "Isso simplesmente não é verdade."
Os reparos a um dedo mindinho quebrado podem significar pinos, parafusos e placas. Oito dias após minha queda, dois pinos foram colocados através da minha articulação MCP. O procedimento, realizado por Edwards em cirurgia ambulatorial, conectou novamente minha falange próxima e reforçou a articulação central do mindinho, conhecida como articulação interfalangeal próxima, ou PIP. Um gesso foi aplicado da ponta dos dedos até o cotovelo.
Doze dias depois, o gesso foi removido e a reabilitação foi iniciada. Nunca tinha ouvido falar em terapia de dedo, mas ela existe – e é dolorosa.
"Terapeutas de mão fazem com que pareçamos bonzinhos", disse Leon S. Benson, diretor de cirurgia de mão do Evanston Northwestern Healthcare em Illinois. "Estou no consultório, feliz e contente, então digo ao paciente: Agora você vai descer para ver Mary Beth, a terapeuta que vai machucar você."
Os tratamentos incluem aplicação de calor, ultra-som, estímulos neuromusculares, talas e exercícios manuais. Começar a reabilitação logo – dentro de alguns dias ou semanas após a cirurgia – é de extrema importância; sem isso, o tecido cicatrizado pode se expandir e a inchação pode piorar.
Comecei minha terapia rapidamente, mas o terapeuta que me ajudava era gentil demais para manipular meu dedo. Quando finalmente encontrei um substituto competente, meu dedo estava rígido e a cicatrização parecia estar avançando.
O tecido de cicatrização, um tecido conectivo fibroso formador da ferida, é mais proeminente e problemático nos dedos porque praticamente não existe músculo ali, logo os tendões se acomodam diretamente no osso. Acumular tecido de cicatrização no dedo mindinho é como "injetar cola dentro de um relógio", disse Benson. "Trava tudo".
O inchaço também pode retardar a recuperação. "É como tentar dobrar uma grande salsicha", comparou Edwards.
Um exame de ressonância magnética do meu dedo foi realizado depois dos pinos terem sido removidos. O resultado confirmou que o tecido de cicatrização tinha imobilizado os tendões flexores – eles ficam permitem que os dedos se dobrem, como se fôssemos dar um soco. Além de não receber tratamento eficaz rapidamente, a genética pode ter contribuído, já que algumas pessoas formam tecido de cicatrização mais facilmente que outras. De qualquer forma, meu dedo estava travado.
Em outubro, passei por uma tenólise do tendão flexor, durante a qual Edwards conseguiu meticulosamente liberar os tendões. No dia seguinte à cirurgia, comecei a fazer terapia com Rogers. No início do mês, concluí meu tratamento; meu dedinho agora dobra facilmente e a força voltou à minha mão.
Agora, o dedo mindinho tem todo o meu respeito.
Fonte: G1
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