Terapia com animal traz benefícios físicos e psicológicos para pacientes com necessidades especiais
Apostando na relação de companheirismo e amor entre humanos e animais, muitas áreas da saúde começaram a investir em tratamentos que promovem a interação entre ambos. Um dos exemplos mais eficientes é a equoterapia, que tem crescido no País. Este tipo de tratamento usa o cavalo para promover o desenvolvimento físico e psicológico de pessoas que sofrem com algum tipo de deficiência.
Essa terapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e tem sido indicada para diversos tipos de deficiência. Cada sessão tem duração de aproximadamente 30 minutos e, durante o tratamento, os profissionais envolvidos promovem várias atividades entre o paciente e o animal para criar um vínculo. Além de estimular os movimentos motores, o exercício também garante ganhos psicológicos e comportamentais.
Os pais de crianças que participam da atividade no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) afirmam que os dias de equoterapia são os mais esperados. Carolina Campos Lozi afirma que a filha de 3 anos, Maria Flor Campos Lozi, está há seis meses na atividade e demonstra muita alegria ao saber que vai para a sessão.
atividade
A terapeuta ocupacional Izabel de Melo Pereira Martins é formada há nove anos e há sete se dedica à equoterapia. A profissional de saúde se especializou na área por meio de um curso da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil) realizado no próprio Crer. Segundo a especialista, o cavalo é um "coterapeuta" que auxilia os profissionais em várias questões, como a ajuda na aproximação do participante com o ambiente que o rodeia, e isso gera muitos estímulos motores que trazem resultados rápidos.
Izabel garante que a atividade proporciona "benefício muscular, de ajuste de tronco, postura, apoio dos pés, força e autonomia". Além destes fatores físicos, a equoterapia ajuda os participantes a desenvolverem a autoestima e a autoconfiança, que muitas vezes são deixadas de lado por conta das limitações físicas.
Os profissionais envolvidos nesta atividade analisam os animais que recebem, no caso do Crer são frutos de doações, para que determinem para que tipo de participante é mais indicado, pois até o próprio impacto da pata do cavalo ao galopar é levado em consideração, pois é o "pisar" que estimula os nervos responsáveis pela parte motora da pessoa que está passando pelo tratamento. Animais com galope mais simétrico são indicados para pacientes com desvios na coluna, que precisam desenvolver o equilíbrio e pessoas com síndrome de Down.
A equoterapia envolve todas as áreas de tratamento para pessoas com necessidade especial. De acordo com Izabel, o trabalho conta com a participação de profissionais da terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, além dos auxiliares-guias que cuidam dos cavalos. Ou seja, tudo que o paciente trabalha dentro dos consultórios é usado nesta terapia de uma forma mais lúdica.
Aproximação
Antes do tratamento começar é necessário que o paciente sinta-se à vontade com o animal. Izabel afirma que no início os participantes, principalmente crianças, ficam com um pouco de medo do cavalo pelo fato do tamanho e da postura imponente. Porém, aos poucos, a equipe vai fazendo atividades de aproximação entre a pessoa e o "coterapeuta".
A profissional afirma que geralmente as três primeiras sessões são dedicadas para promover a adaptação do praticante ao animal. Questões estruturais do local onde é praticada a terapia também são pensadas para fazer a pessoa se sentir mais segura, como, por exemplo, uma rampa que leva o portador de necessidade especial até o animal e o deixa na mesma altura que o cavalo.
Antes de cada sessão ter início, o participante fica em contato com o animal fazendo carinho e ganhando confiança. Outra questão importante para manter este vínculo é o tempo dedicado aos cuidados dos animais. As pessoas que participam da equoterapia ajudam na limpeza dos animais e interagem também com outros espaços e bichos que vivem no ambiente onde é realizada a terapia.
Restrições
Mesmo proporcionando vários benefícios, esta terapia não é indicada para todos com necessidades especiais. Segundo Izabel, o Crer possui um protocolo de indicação e contraindicação do tratamento. O centro de referência em Goiás atende pessoas de várias idades, que vão desde crianças que nasceram com limitações físicas e mentais, até adultos que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC), trauma craniano, lesão medular e paralisia cerebral.
A profissional ressaltou que pacientes com problemas mais sérios e que têm traqueostomia necessitam de laudo de liberação médica para poder fazer a terapia. Além disso, pessoas com implante de cóclea (dispositivo auditivo interno conhecido como ouvido biônico) só podem fazer com mais de dois meses que o implante foi realizado para evitar que haja um deslocamento do aparelho.
No Crer, o tratamento começa a ser realizado com crianças a partir de três anos. A terapeuta explica que esta idade é importante, pois antes disto a pessoa não tem maturidade motora e cognitiva para participar da equoterapia. Além disso, os benefícios não são muito perceptíveis.
Participantes
Atualmente, o Crer atende aproximadamente 250 crianças e possui uma fila de espera com cerca de 300 pessoas. O participante fica na terapia por até um ano, caso esteja tendo muitos ganhos, o prazo pode se estender por até doze meses.
A menina Antonela Rosa de Freitas, de 3 anos, já está na equoterapia há oito meses. A garota foi vítima de um afogamento que comprometeu a parte motora e neurológica. Segundo Izabel, ela teve um ganho imenso depois que começou a participar da atividade. A criança que chegou à terapia sentindo medo da interação com outras pessoas, hoje já consegue fazer carinho no cavalo e se relacionar bem como todos.
A mãe de Antonela, Keurry Freitas, afirma que os resultados da equoterapia são visíveis. De acordo com ela, a filha não tinha nenhum controle de tronco e hoje ela já consegue sentar mantendo o corpo firme e equilibrado. Além do mais, ela destaca os ganhos sociais e a perda do medo que tinha de se relacionar com outros animais.
Outra mãe que aponta os benefícios da atividade é Caroline, citada no início da matéria. De acordo com ela, a resistência muscular da menina melhorou. Além disto, depois que começou a participar da atividade, ela aponta que a filha se mostra sempre alegre perto de animais.
Izabel ressalta que nenhuma atividade deve acabar na clínica. É necessário que a família dê continuidade a todos os ensinamentos e exercícios trabalhados nas terapias. Segundo ela, o participante vai no local "uma vez por semana, faz uma terapia de 35 minutos. O benefício é grande, mas todas as orientações que a gente passa têm que ir além daqui".
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