quarta-feira, 11 de abril de 2012

Transtorno da Compulsão Alimentar


 

Transtorno da Compulsão Alimentar
Pela primeira vez na história, o número de pessoas que tem problemas por comer a mais do que devia ultrapassou o número de pessoas que passam fome. Palavra da Organização Mundial da Saúde ao observar o número de pessoas com excesso de peso comparando com as pessoas subnutridas.
 No Brasil estima-se que uma em cada três pessoas apresentem peso acima do adequado. Existem pessoas que se alimentam de modo inadequado, uma boa orientação nutricional e um pouco de boa vontade conseguem resolver o problema. Existem pessoas que tem uma tendência natural, desce o nascimento, para o aumento de peso, e essas tem que tomar medicação específica, em especial para mudar o modo como o organismo transforma os alimentos.
E existem pessoas que sofrem de um tipo específico de compulsão aos alimentos. Essas pessoas costumam comer, num período pequeno de tempo, uma quantidade de comida muito maior que a maioria das pessoas comeria em situações parecidas, percebendo que lhes falta controle sobre a ingestão nessas situações.
Somente por esses critérios, possivelmente a maioria das pessoas se encaixaria, pelo menos no churrasco ou macarronada dos domingos... Atualmente os melhores critérios de diagnóstico são os da Associação Psiquiátrica Norte Americana, que no seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, afirma ser necessário para se considerar essas pessoas como possuindo compulsão alimentar, que esses episódios de comer excessivamente ocorram em média pelo menos 2 dias por semana por pelo menos 6 meses, e a cada episódio a pessoa percebe que está comento muito mais rapidamente que o habitual, até se sentir desconfortavelmente cheia. Às vezes também ingerindo grandes quantidades de comida mesmo quando não sente fome, outras vezes procurando comer sozinho por se sentir envergonhado ou culpado por comer desse modo, e no geral sentindo-se muito mal, com muita culpa ou depressão, após comer desse modo.
A maioria absoluta, em torno de 75%, dos que se alimentam compulsivamente acabam sendo obesos. E até 40% dessas pessoas no geral apresentam algum outro quadro psiquiátrico associado, como transtornos de ansiedade ou depressão.
Um engano comum, que só faz piorar o quadro, é pensar que esse problema seja conseqüência de algum problema psicológico oculto, que essa pessoa tenha algum problema emocional escondido. Na verdade, essas pessoas tem realmente dificuldades psicológicas, mas elas são conseqüência dos diversos fracassos em infindáveis dietas para redução de peso.
É bem verdade que não é difícil confundir o que dá origem a o que. Muitos comedores compulsivos relatam que a compulsão é ativada por uma variação importante do humor, como a depressão ou a ansiedade. Outros não conseguem identificar esses gatilhos com precisão, mas muitas vezes relatam um sentimento inespecífico de tensão, que é aliviado pelo comer excessivamente. Outros ainda descrevem que nos momentos de compulsão tem sensações de "torpor" ou de "estar aéreo", como se saísse um pouco de si mesmo. Uma grande parte dos indivíduos come durante o dia inteiro, sem planejar as refeições.
Na verdade, pessoas com esse tipo de compulsão no geral apresentam um passado de várias flutuações de peso. É o efeito sanfona, que acontece nos que sofrem dessa compulsão numa proporção bem maior do que os que não sofrem desse transtorno.
Alguns estudos realizados em clínicas de emagrecimento pelo mundo afora indicam que entre 15% a 50%, numa média mundial de 30%, possuem esse transtorno de compulsão. As mulheres apresentam uma taxa uma vez e meia maior do que os homens.
Já quando a população geral é estudada, ao contrário de pessoas estudadas especificamente em clínicas, descobre-se que até 4 em cada 100 pessoas é acometida desse mal. No geral esse transtorno tem início no final da adolescência, até por volta dos 20 anos, e com grande freqüência aparece logo em seguida a uma dieta para perda de peso.
Esse é um dado que dá no que pensar. Muitas adolescentes, por pressão social numa idade de crescimento, acabam realizando dietas de emagrecimentos que até podem reduzir o peso por algumas semanas ou meses, mas em muitos casos desencadeiam exatamente o transtorno alimentar periódico, que no geral tem o que chamamos de curso crônico, ou em bom português, seguem pelo resto da vida a menos que algo seja feito.
Se a origem desse transtorno está longe de ser exclusivamente psicológico, o tratamento deve ser preferencialmente realizado por equipe multi profissional. O maior erro é continuar a fazer dietas e mais dietas de redução de peso, que só irão gerar mais frustração. Isso porque é necessário tratar a base do problema, que está no cérebro e possivelmente associado com níveis baixos de serotonina, um mediador químico cerebral que tem importância fundamental em diversos estados de humor e num variado número de transtornos psiquiátricos, inclusive o de compulsão alimentar periódica.

Autor: Cyro Masci
Colaborador Saúde em Movimento

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